quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Pergunte à poeira!

Não era um grande dia quando nasceu. Mas a partir do momento em que o cordão umbilical foi rompido e começou a respirar autonomamente, esse simples dia passou a ser considerado importante. Ao olhar para o semblante que apresentava, algumas pessoas já diziam prever um grande futuro para aquele ínfimo ser. Tudo girava ao seu redor.

Ao se passarem alguns invernos - prefiro este à primavera - parecia querer afirmar, sem querer, as previsões feitas a seu respeito. Tudo dançava em torno. Quando tinha uns 4 ou 5 anos, já resolvia problemas de física quântica. Andava só, pois só ele sabia para onde ir e por onde andou. Foi criado para ser grande, mesmo pequeno. Enquanto não tinha idéias próprias, limitava-se a fazer o que os outros recomendavam ou forçavam.

Como o tempo não pára, não preciso dizer que ele passou, assim sendo, foi enviado às melhores escolas, para aprender o que havia de melhor da melhor maneira. E foi aí que coisas estranhas começaram a acontecer. Apaixonava-se pelos erros das pessoas, e pelas pessoas erradas - ou certas? Nunca saber-se-á!

Aos quinze anos ouvia Ray Charles, Mozart, lia Sócrates, Dostoiévsky nas línguas originais. Compreendia Borges como ninguém. Ia a concertos de óperas sozinho, ou com os pais. Não tinha amigos que o acompanhassem. Tanto melhor!

Quando dezesseis anos, apaixonou-se pela menina mais bela da escola, possuía ela alguns dous dentes ou menos. Tinha ela seu cabelo áspero jogado aos ombros, olhos negros como jabuticaba. Face roxeada. Tentou uma aproximação silenciosa. Ao perceber que não daria muito certo, decidiu-se por conversar francamente com a musa. Ela disse não!

No dia seguinte foi encontrado no próprio quarto com os pés flutuantes, sem cordão umbilical que salvasse. Carregava no bolso uma obra de Goethe.

R. de G.

2 comentários:

Indhiara disse...

E eu senti uma tremenda falta das atualizações desse blog.

Pessoa prodígio, não? Só de resolver física quântica com pouca idade, o personagem em questão é digno de medo. Eu sairia correndo.
Nem com pouca, nem com muita e nem com todas as idades sou capaz disso.
"Não" a gente recebe todos os dias, direta ou indiretamente. Eu tenho recebido nãos em forma de flores, o que dói ainda mais.
Força pra esses dias, sem desespero por causa das decepções.


(comentário mais que viajado, num tive um dia bom)


Não suma novamente ok?
bjos!

Srta. Festa disse...

Nossa há quanto tempo MESMO heim Gomide. Espero que a sua viagem em torno da galáxia tenha valido a pena (Só assim pra você ter sumido por tanto tempo).

Enfrentar as questões emocionais não é mesmo pra qualquer um. O garoto podia resolver qualquer problema de física ou ler Dostoiévsky, mas foi só levar o primeiro "Não" e já desabou.

Levar um "não" dói mesmo. Já levei, desabei e agora levantei, muito melhor. É uma coisa normal, fazer o quê.

Bjos, Avante e além viajante espacial!!! =D