sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O Homem revoltado

Estou-me aqui a folhear o Suplemento no meu recinto profissional, como quem nada quer ou como sobre alguém quer saber um pouco mais. Não me surpreendeu ler que quase nunca se ausentou de sua grande cidade. Já ouvi até que após retornar de uma viagem curta e para uma cidade próxima, ocorreram coisas estranhas.

Tudo isso não me causou espanto algum, apenas uma leve inspiração para rechear essa página largada à outrora sorte.

Fiquei pensando no meu alter-ego, ou em mim mesmo. Nasci numa cidade não mui grande nem mui pequena. O sotaque que carrego comigo é o mesmo de onde o meu outro eu encontra-se.
Enfinces, vim divagar sobre um assunto qualquer, e registrando o que adquiri hoje.

Nessa cidade na qual nasci, não sendo grande, deve a leitora estar supondo que conheço-a - a cidade - como a sola do meu pé. Entretanto, digo que pensas erradamente. Conheço sim, como o olhar da minha amada, a região perto de onde nasci e morei por alguns 17 anos. Se afastar-me um pouco desse lugar, dificilmente me perco, mas é possível que eu não conheça o lugar perfeitamente. Há bairros lá que eu desconheço o nome, e por conseguinte, nunca neles estive. É provável que, até nos que eu estive, eu não saiba nomeá-los.

Toda essa (revira)volta é para refletir sobre a questão da sabedoria. Deveria eu conhecer todos os lugares de onde nasci? Conheço um senhor, deveras viajado, que sabe de lugares da minha região que eu nunca havia ouvido falar. Sem contar que ele fala com exímia exatidão, como doutrina Calvino - até porque ele (o sr.) esteve perto da minha cidade - de um lugar que eu ignorava.
Aqui, hoje é semelhante. Tenho apenas sapiência do meu entorno. Cada dia que passa ouço o nome de um bairro e, para ofensa de alguns, eu indago se localiza-se em BH. Perdoe a benta ignorância desse pobríssimo ser.

Eu defendo-me! Inocente sou. Não tenho pretensões de ser Forrest, tampouco Klink. Queria eu dizer que ficava em casa desfrutando da mais bela e mais culta leitura, assim eu teria um bom argumento para dizer porque ficava em casa. Não que não lia, acho até que li um príncipe pequeno, quando assim era - porém, a ignorância era quase a mesma de hoje e nada acrescentou-me -, mas não, não ficava em casa praticando a leitura todo o tempo, ou quase nenhum.

Dinheiro também para viajar aos oito cantos do mundo, falta-me, já aquele senhor não. Se falta o primeiro pré-requisito, é desimportante ter ou não os restantes.

Enfim, defendo-me ultimamente citando o título. Absurdo!

R. de G.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Já tens a tese.

Hoje comemora-se aniversário de morte do antigo dono da cadeira dois da ABL. Do JGR (JJ) ou, ainda, do João Guimarães Rosa.

Na verdade, aniversário de morte dele pouco me importa. Não que eu tenha desprezo, só "me não" interesso muito.

Todavia, por algum motivo, eu tinha que vir aqui hoje e escrever alguma coisa. Para quem sabe o que é, já sabe. Para os que não sabem, apenas leiam o que está escrito, ou podem também desenvolver uma tese de doutorado e pesquisar o porquê. (Rá!)

R. de G.
1/5 centenário.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Problema grego!

Quem aparece sempre é vivo. Por isso ele está aqui de novo para escrever algo próprio, de sua autoria, nada de ficar escrevendo poemas esdrúxulos ou plagiando meros escritores ingleses que ninguém conhece.

Por tudo isso pouco, outrem está de volta para trasmitir-lhes palavras de saber. Não que seja sábio, ao contrário, tem tão pouca inteligência quanto aquele que é autodidata.

E agora ele começa o seu breve texto.

E aí vem uma dúvida. Começar por período simples ou composto? Se for por aquele terá que ser tão breve como uma chuva fina, se for por este eStenderá tanto que até os mais descritivistas lhe chamarão de agramatical. E esse é só o primeiro problema. Bom, optastes pelo período longo, por não ter apego às coisas pequenas.

Veio-lhe outra questão: escrever sobre fatos cognoscíveis ou não?! Nada como um conflito que já afligia aos gregos. Pensou em trasmitir uma idéia real, mas como trasmitir algo real apenas com as palavras? Para entendê-lo, ele teria que fazer cada um passar o que passou para compreender seu drama. Preferiu passar adiante.

Depois, um pouco cansado dessas questões assaz relevantes, resolveu finalmente transcrever seus pensamentos. E o texto começava assim : "Havia na vila de La Macha um senhor fidalgo que era deveras respeitado..."

Já se encontrava no segundo capítulo quando lhe veio uma pungente dúvida. O engenhoso fidalgo tinha um cavalo, todos os chamavam de Rocinante, inclusive ele. Entrementes, quando foi transcrever o nome a pena não seguia o pensamento. Não sabia se começava com R ou H, embora soubesse que o som era de /R/, e ademais não sabia se seria com C ou S, mesmo sabendo que o ruído seria de /s/. Por fim largou a pena e alimentou o fogo com suas folhas escritas.

Ali morreu uma história razoável.


R. de G.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

WS

Como nasce o amor no mundo?
Do coração bem fundo
ou da mente oriundo?

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Enbilharado

Mesa verde
Presente nas sombras
(in)só(m)brio
(a)onde vou/estou

Precipí(ini)cio
Meu corpo que cai
Acordar? Difícil
Já era tarde, quase dia.

Regratrês, mais de três
Chorar-te-ão. Can(sa)ção
N(ã)o canto no tom.
Canto em só. Si só.

Pareciaqueeraaminhaaquelasolidão.

R. de G.

(Post scriptum: "Há seus méritos em não ser compreendido." Baudelaire)

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Pergunte à poeira!

Não era um grande dia quando nasceu. Mas a partir do momento em que o cordão umbilical foi rompido e começou a respirar autonomamente, esse simples dia passou a ser considerado importante. Ao olhar para o semblante que apresentava, algumas pessoas já diziam prever um grande futuro para aquele ínfimo ser. Tudo girava ao seu redor.

Ao se passarem alguns invernos - prefiro este à primavera - parecia querer afirmar, sem querer, as previsões feitas a seu respeito. Tudo dançava em torno. Quando tinha uns 4 ou 5 anos, já resolvia problemas de física quântica. Andava só, pois só ele sabia para onde ir e por onde andou. Foi criado para ser grande, mesmo pequeno. Enquanto não tinha idéias próprias, limitava-se a fazer o que os outros recomendavam ou forçavam.

Como o tempo não pára, não preciso dizer que ele passou, assim sendo, foi enviado às melhores escolas, para aprender o que havia de melhor da melhor maneira. E foi aí que coisas estranhas começaram a acontecer. Apaixonava-se pelos erros das pessoas, e pelas pessoas erradas - ou certas? Nunca saber-se-á!

Aos quinze anos ouvia Ray Charles, Mozart, lia Sócrates, Dostoiévsky nas línguas originais. Compreendia Borges como ninguém. Ia a concertos de óperas sozinho, ou com os pais. Não tinha amigos que o acompanhassem. Tanto melhor!

Quando dezesseis anos, apaixonou-se pela menina mais bela da escola, possuía ela alguns dous dentes ou menos. Tinha ela seu cabelo áspero jogado aos ombros, olhos negros como jabuticaba. Face roxeada. Tentou uma aproximação silenciosa. Ao perceber que não daria muito certo, decidiu-se por conversar francamente com a musa. Ela disse não!

No dia seguinte foi encontrado no próprio quarto com os pés flutuantes, sem cordão umbilical que salvasse. Carregava no bolso uma obra de Goethe.

R. de G.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Sete ou nove?

Setembro. O mês que começa com sete, na verdade é o nono do ano.

Para começar, e só agora sendo cristalino, é o mês que comemora-se, o centenário de morte de um cara que gostava tanto de lenhar que tinha até machado no nome. Vinte e nove do nove. Essa é a data! Creio que comprarei um bolo, e come-lo-ei sozinho.

Mês que quem nasceu recentemente comemoraria aniversário de nascimento, infelizmente nao fará. Há pouco tempo que o primeiro mês se foi. Mês infeliz. Não era grande. Agora deve estar menor. Quem nasce por esses pode dizer sem remorso que morrerá virgem.

Esse texto está uma merda, nem sei porque estou postando-o, mas já que tem muito tempo que nao escrevo nada, deixá-lo-ei aqui. Melhor que nada.
O de cima tentarei melhorar, prometo.

R. de G.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Alencar??

Ela entrou no salão, quando ainda (ou já) estava-se no meio da festa.
Um longo preto, longe de ser básico, era o que trajava. Um ou dous efeitos de maquiagem para realçar o que tem de mais bela, não para parecer o que na verdade não é.
Chegou sozinha. Minto! Chegou acompanhada. Acompanhada de anjos nos ombros, carregando-a no andar, pois a forma como o fazia era mais que um simples andar.
Na entrada do salão ficou a virar sutilmente a cabeça de um lado para o outro, como que procurando alguém - embora tenha para mim que era para que todos pudessem contemplá-la.

Avistou alguma coisa e foi nessa direção - não na minha, não tenho sorte em nada, muito menos com mulheres. Encontrou-se com algumas amigas, não eram feias, mas incomparáveis à dama em questão. Cumprimentou-as com delicados beijos na face e um sorriso magnífico. Sentou-se ajeitando o vestido.

Na hora da valsa, alguns mancebos tentaram tirá-la para a dança, não aceitou os primeiros, por desdém ou por desconhecê-los. Aceitou um rapaz alto, não muito magro e nem muito belo, o motivo é desconhecido. Dançou algum bom tempo com ele até que se fatigou. Pediu ao garçom que levasse-lhe água na mesa em que retornara. Arriscar-me-ia tentar tirá-la para dança também se a cena que via não estivesse tão única. Como que já satisfeita pela valsa, pos-se a dialogar com as companheiras de mesa e, a cena a qual me refiro, com sorrisos largos e lindos o fazia. Não gargalhava, apenas um ou outro sorriso com graciosos gestos de alegria, os quais pela leveza e simpatia agradavam-me bastante.

Ao fim da festa, parecia que acabara de chegar.

R. de G.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Curiosidades

Curiosidade para os brasileiros:
Franceses não tomam banho todos os dias.
Curiosidade para os franceses:
Brasileiros não comem todos os dias.

terça-feira, 3 de junho de 2008

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Eu, um voyeur...

Da minha janela, vejo a dela. Da minha janela, suspiro por ela. O quadrado da minha parede é, sim, uma janela. O quadrado da parede dela, não é. É, na verdade, uma moldura a emoldurar seu rosto lindo e encantador. Molduras boas não salvam figuras ruins, entrementes, a sua figura salva qualquer moldura. Da minha janela fico como um espião, paciente, esperando que ela apareça em sua moldura. Caso apareça de costas, não é de todo ruim, fico a apreciar seus longos cabelos pretos, de textura invejável e cheiro estupendo. Se por ventura aparecer de perfil, diria que é como um semi-prazer, seria como um decote, no qual a graça é justamente o não ver. Nessa posição se tem uma grande idéia de sua grande beleza. No entanto, se estou num dia de imensurável sorte, ela aparece a mim de frente e mesmo que seja longíqua a sua imagem, causa em mim uma sensação de torpor, sinto-me instantaneamente e prolongadamente anestesiado, ainda que estivesse sobre pontas de ferro em brasa, nada sentiria.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Uma rapidinha?[2]

Nosso saudoso e querido velhinho foi à outra agência bancária sacar sua estupenda aposentadoria. Chegando lá, procurou um outro estagiário, e também pediu-lhe ajuda, dizendo:
- Vim sacar minha aposentadoria.
- Sim, então coloque seu cartão e digite a senha do senhor!
- Você, por favor.
- Não posso senhor, tenho ordens para não saber a senha dos clientes!

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Tributo a Alonso Quijano (vulgo Dom Quixote)

Este texto a seguir eu escrevi ano passado, e agora o transcrevo aqui.

Ó tu, que andaste por entre vales, penhas, sítios dos mais pergisos. Tu que alentaste aos necessitados, consolastes viúvas, salvastes órfãos, desfizestes desgraças sem olhar a quem, como no caso dos ingratos galeotes. Tu que deste grande valor a teu fiel escudeiro, humilde e não tão discreto Sancho Pança.

Serás para sempre o mais importante de todos os cavaleiros andantes de que se tem registro. Pois nenhum deles encerravam em si tantas virtudes como Vossa Mercê. Nem mesmo Amadis de Gaula, a quem reverenciaste ao longo de tua jornada no lombo de Rocinante. Foste o mais intrépido, discreto, honroso cavaleiro. Ao teu braço nenhum outro se iguala, nem mesmo se compara; tua oratória faria inveja a grandes outros, como Cícero; mesmo que não foste dos mais formosos homens, não foste dos menos e, assim sendo, tua enorme discrição o tornaste um varão dos mais cobiçados.

Porém, mesmo tendo várias donzelas ao teu dispor, nunca ao menos pensou em outra rapariga, senão na formosíssima Dulcinéia del Toboso. Esta sim, foste das mais belas mulheres que habitaram e hão de habitar a Terra. Mesmo outras, as quais a feiúra andava para muito longe, como Dorotéia, Lucinda e Zoraida, não merecem sequer comparação à tua Senhora, visto que era de formosura sem-par.

Ainda que por vários aziagos tenha Vossa Mercê passado, as tuas glórias, como o enfrentamento ao leão faminto, permanecerão e sobressairão-se eternamente. E tenho ainda para mim que os moinhos de vento , como disse Sancho, não o eram. Com certeza, os néscios dos nigromantes praticaram magia, a fim de que tu, Cavaleiro Andante, fosse tido como mentecapto, o que também tenho para que foi umas das maiores difâmias professadas em todos os sítios.
Ide em paz.

Seu, eterno, admirador.

R. de G.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Uma rapidinha?

Um senhor foi ao banco sacar o dinheiro da sua aposentadoria. Chegando lá, pediu ajuda à um estagiário para o saque nos terminais de auto-atendimento. Simpaticamente o jovem disse:
- Pois não, coloque o seu cartão e digite a senha do senhor!
- Você, por favor - replicou.
- Não, senhor, me refiro à senha de 4 números, não de letras!

R. de G.

(es felix puella JJ?)

segunda-feira, 7 de abril de 2008

O soldado brasileiro.

Bom, hoje contarei (ao menos tentarei) contar um dia da vida do famoso herói brasileiro: o
San Chupança.

Não direi as horas em que ele acorda, pois se é brasileiro, e ainda herói, o horário é óbvio - se não souber, acompanhe o dia e calcule. Enfim, em pé agora se encontra nosso saudoso San, foi até a cozinha, abriu umas latas vazias, comeu um restos de biscoitos quebrados com meio copo de leite puro. Pensou em uma fruta, achou-a, mas estava já em estágio de decomposição, afinal tantas são as "traças" que mesmo tendo comprado-a um dia antes, o consumo já não era possível. Foi até o banheiro para tomar banho, e como é brasileiro, é claro que o banho era frio, mesmo sendo as horas que eram, a opulência da energia elétrica ainda não lhe era permitida. Sem mais, saiu de casa, pela sala, tentando não pisar nas cabeças dos tantos filhos onde lá dormiam (e dormem), pois estes ainda teriam mais uma ou duas horas de sono, antes de irem para a aula, numa escola não muito bem conceituada.
Agora San já se encontrava sob as estrelas (!), às vezes ele pensava melhor se estivesse sobre as mesmas, mas ainda não estava. Até porque tinha um time de futebol de salão para cuidar, sem contar as duas mulheres que ele - tenta - sustenta. Caminhou cerca de 5 km até o ponto de ônibus, mais que exercício matinal, era necessário essa peregrinação. O trasporte chegou, ainda atipicamente de como os conhecemos, umas poucas cabeças sentadas, todas cochilando, Sr. Chupança teve a suntuosidade de escolher o local onde iria sentar - calma, ele ainda vai ficar lotado. Chegou ao destino, não o local do trabalho, mas no outro ponto de ônibus de outro ônibus - ou você pensa que herói pega um coletivo só? Esse sim, estava como os conhecemos, id est, braços e cotovelos disputando cada milímetro disponível. Nosso homem se lembrou agora do primeiro, quando entrou neste, e suspirou!
Após uma má viagem (!), chegou ao seu local de trabalho, desejou, no pensamento, boa aula às crianças, uma vez que neste momento, pouco mais ou pouco menos, estariam começando os estudos diários, ou pelo menos a ida à escola. Chegando ao prédio onde trabalhava, sorriu largamente com um sorriso sem dente e cumprimentou afavelmente o porteiro com um amistoso "Bom dia!", o porteiro, sem outros dentes, retribuiu. Chamou o elevador dizendo "venha elevador!", depois de, claro, apertar o botão correspondente a tal ação, nosso Hércules não era tão desentendor de elevadores - pelo menos não mais. A caisa metálica chegou, nela já havia um ou dois passageiros, estava ainda meio sonolento, ainda não se acostumara com 5 horas de sono, mesmo após 11 anos. Estava num elevador e era brasileiro, logo não se podia falar em outro assunto senão o o clima. Exclamou para os outros três passageiros do box: "Que calor, não?!", os outros brasileiros presentes no veículo responderam: "Ô!". Esse foi o longo colóquio existente até que o nosso companheiro descesse no seu andar. Desceu, foi pegar no seu "escanin" (dois anos de BH e ainda não gosto dessa palavra) a sua roupa, o seu uniforme - afinal, onde já se viu herói sem vestimenta própria? Calçou a bota, e vestiu o resto, no peito, do lado esquerdo, trazia um escudo de alguma conservadora, desde que viu aquela roupa nunca se agradou muito, aquela cor parda, sem vida era capaz de desagradar até aos que tem mau gosto vestuariamente falando. Estava uniformizado, agora foi até o almoxarifado pegar suas ferramentas de trabalho, um balde, vassouras de todos os tipos, mesmo que não usasse todas, e um carrinho enorme que a função é menos transportar as ferramentas do que atrapalhar o trânsito no corredor. Antes da transformação, as pessoas o cumprimentavam, pelo menos o olhavam, agora estava que com aquela roupa morta, as pessoas pareciam não vê-lo, ainda que tivessem que desviar do nosso herói. Mas ele não se preocupava com isso, vivia a cantar, mesmo que em alguns versos lhe faltassem os dentes, como por exemplo, não podia dizer "fácil", pois sendo o som [f] fricativa lábiodental desvozeada, era impossível de executá-lo. Também com isso não se intimidava. Deu a hora do almoço. Foi de volta até o seu "escanin" (:P) para pegar a sua "quentinha", ainda que qualquer termômetro, seja em Kelvin, Fahrenheit ou mesmo Celsius, marcassem quase um zero absoluto. Mas dessa fria, o bondoso San já havia se livrado fazia algum tempo, desde que a empresa comprou um ultra-moderno forno de microondas. Esquentou-a no eletrodoméstico, e foi comê-la debaixo das escadas, não que faltassem mesas, ou ainda cadeiras, mas ali ele se lembrava da infância e se sentia mais a vontade. Seu extenso curto horário de marmita acabara. A sesta ele preferiu não fazer. Estava com muita disposição e as janelas do prédio eram infinitas, mesmo que fosse possível contá-las. Talvez a infinidade de janelas fosse o motivo do não feito da sesta, mas San Chupança trabalhava com gosto, que dá gosto de ver. Varreu, passou pano úmido, sem saber se era "úmido" ou "húmido", mas o certo é que ele o umidecia, e como ninguém! Ainda que gostasse das coisas bem limpas, às vezes, e só às vezes jogava para debaixo dos tapetes uma sujeirinha ou outra. Isso ele aprendeu ouvindo com os seus superiores - San Chupança preferia o nome "patrão" -, pois sendo estes senadores, ou segadores, ou sonegadores? Nosso herói nunca sabia para quem ele trabalhavao ao certo. Enfim, certa vez ouviu um deles dizendo com outro ''patrão": "Que bobagem meu caro, cobrir com tapete as sujeiras, esporadicamente, não faz mal a ninguém, eu lhe asseguro!". Afim de aprender o novo vocábulo que acabara de ouvir, passou a então, ESPORADICAMENTE, e que fique bem claro que é desta forma, jogar sujeira onde ninguém via. Às vezes também era chamado para limpar as sujeiras de seus chefes, estes sujavam a sala com café ou outra bebida e San limpava, às vezes, sem entender o porquê, San Chupança era chamado para limpar outras coisas, mas fora do local de trabalho, era um lugar todo chique, dizia ele: ''onde tem um homi qui só anda com uma capa preta, me disseram que era juiz, mas não de furtebór!". San San gostava de ir até esse local, sempre que voltava de lá seus superiores o cortejavam, lhe davam até balas importadas.
Enfim, o dia de trabalho foi longo, agora era hora de ir pra casa. Esporadicamente, pensava ele que fosse melhor náo ir para casa, afinal voltar para o mesmo lugar era tão danoso, mas a vontade de ver a mulher com um filho em cada braço e cada perna o motivava a fazer a penitência. E foi assim que viu a mulher quando chegou em casa, um filho em cada braço, um em cada perna, e um em cada braço do sofá. Deu um beijo em cada um dos presentes no recinto, e foi dormir, afinal, no dia seguinte, mesmo sem fazer promessa, teria que peregrinar novamente.

R. de G.

segunda-feira, 31 de março de 2008

ego versus especulum

Acordei. Olhei-me no espelho. De forma espetacular o espéculo refletiu uma imagem turva, embaçada. Esperei, na esperança da imagem de tornar nítida. Esperando, ia pensando no espaço. Espaçosamente ia me espreguiçando. Nada, o especulum continuava confuso. Confusamente, perguntava-me o porque daquilo. Suei, soei, (assoei?). Sem mais esperanças, dei as costas ao ser de vidro. Fiquei vidrado por não ter conseguido ver a minha pessoa à minha frente, será que teria alguem na minha frente e a imagem se desfazia por esse motivo? Será que foram aqueles meus "amigos" espirituais com os quais me encontrei em Mariana, a uns dois anos atrás? Depois que os vi, passei a neles acreditar. Quando virei de costas para o objeto de silício, olhei de repente (e nao ''derrepente'') para trás, na esperança de que me visse como sou acostumado a me ver. Inania actum. Saí de perto, fui para perto, para um lugar apertado, apertando a mim mesmo, com o coração (quanto pieguismo) apertado. Apressando para me distanciar dali, fui buscar uma compressa com pressa. Talvez estivesse eu delirando. Sonho não era, pois, por mais que delírio fosse, era definitivamente um delírio real. Drogado, dopado, "viajando'', também não! Acabara de acordar, e por mais que quisesse (e mesmo se eu fizesse uso dos ''tóxicos") era a minha pessoa impossível de fazê-lo. Pensei, esperei, especulei, penso que encontrei a resposta. Sim, quando descobrimos o segredo, sempre nos autoconsideramos tolos, ou um bonzo. Era desTe o segredo. Brincar de ser lenhador e ler muitos machados talvez fosse a razão daquela viagem sobre-natural natural. Fui até o vestíbulo, onde se encontrava a minha farda, não militar, era também verde, mas não era do Exército, pelo menos não de alguma força nacional. Era do exército dos que lutam com as palavras, e fazem destas as suas armas. Era uma farda verde, com detalhes em ouro. Dizem que só veste essa roupa pessoas que participam de uma casa no Rio de Janeiro, localizada na Av. Presidente Wilson. Uma casa que: tem um coelho que não poderia nela estar e que foi construída a machados. Enfinces, vesti-me de tal vestimenta. Voltei ao espaço onde o ser inanimado me desanimou. Agora sim, era eu. A imagem estava nítida. Mesmo tímido me olhei nos olhos. Aquele era, definitivamente, eu!

segunda-feira, 24 de março de 2008

Ganhei um ótimo exemplo...

Às vezes faço comentários que as pessoas me contestam. Algumas vezes me convencem de que estou errado, mas não raro, elas discordam de mim simplesmente por pieguismo. Falando coisas do tipo ''nossa, credo, mas que coisa ruim".

É, estou longe de ir para o sél, mas que posso eu fazer se penso algumas coisas diferentes do chamado ''comum''. Todo esse rodeio é para dizer uma vez que falei com alguem, que nao me recordo quem era agora, que nao tem muito problema em se sujar (um pouco) algum lugar ou alguma coisa. Por exemplo na escola, quem nunca rabiscou uma carteira? Quem nunca pediu o "corretivo'' (em Fabriciano tem outro nome) em forma de caneta para escrever o proprio nome na cadeira? Nao ha muito mal nisso, assim estamos garantindo um emprego. Afinal, as faxineiras sao pagas para isso, se nao sujarmos, nao precisaremos de alguem para limpar. Dessa forma, uma vaga de emprego deixará de existir. Nao estou dizendo para sairmos pichando o que vemos pela frente, pelo contrario, civilizacao inclui limpeza, em todos aspectos, mas um nome escrito a lápis na madeira nao faz mal algum. Esse argumento eu já usei, mas hoje no elevador da Biblioteca, encontrei com o sr. da faxina ele sorridente me disse ''pronto, terminei'', como nao temos muita coisa para dizer no elevador eu disse ''é, o povo fica pondo a mao no espelho né?!", e o motivo pelo qual estou escrevendo o que estou escrevendo é justamente a resposta que o sr. me deu ''é, mas se ninguem por a mao e nao sujar, nao precisariam de mim para limpar"...

(caso 'venérico')

sexta-feira, 21 de março de 2008

O peixe e o senhor...

Os registros antigos gregos, da Grécia, registram registrados nos papéis, uma anedota que será dita a seguir em seguida:

Conta esta anedota cômica hilária, que um senhor, um dominus, um idoso mais velho, queria pescar peixes marinhos do mar, mesmo nunca tendo feito isso antes- pois só pescara peixes dulcícolas de água doce. A seguir, comprou algumas caras varas de pescar, para a sua caçada sob as águas - mesmo que ele fique sobre a água. Adquiriu também um barco mono-motor de um motor só. Quando estava tudo certo para a sua atividade ele percebeu que estava tudo certo para a sua atividade, e a sua atividade, então, ele foi realizar. Escolheu um lago -de água adocicada - para fazer o pretendido. Pegou a sua cara vara na mala, introduziu no anzol um anelídeo, desses que são encontrados sob debaixo da terra. Quase tudo pronto, faltava arremessar às águas a sua cara vara que lhe custou caro. Fez um movimento magnífico, digno de ser filmado, fotografado e exposto em todos os museus de arte, mas ninguém estava ali para isso. Com o verme embaixo d'água, o nosso querido adorável velhinho começou a atrair para perto alguns seres que ali habitavam - afinal, seu objetivo era esse bem como a meta. Houve uma árdua batalha no reino aquático da lagoa para ver qual seria o ser do reino Piscis que abocanharia com a boca a sua presa. O mais forte ganhou, inacreditavelmente. Com um só golpe afastou para longe de si todos os seus concorrentes que concorriam com ele na disputa, e com outro golpe envolveu o anzol com sua bocarra que Zeus lhe deu. Outra batalha haveria de ocorrer. Agora saberíamos quem era o mais forte, se o nosso protagonista principal ou o nosso Hércules sub-aquático. Ao sentir a sua cara vara sendo puxada para baixo, na direção que puxa a gravidade, o intrépido senhor iniciou a puxada da sua cara vara, a fim de trazer para o barco o seu troféu, pois estava afim de comer peixe na santissima semana. Homero que me perdoe, mas tal batalha foi tal, que talvez nem Aquiles tivesse coragem de enfrentar, foi uma guerra incessante sem fim. O animal puxava para um lado, o animal para o outro, era tão animalesco os animais em disputa que merecia ser registrada em registros gregos, da Grécia. O mamífero ia com a cara vara, o peixífero não dispondo de outro meio mecânico, valeu-se apenas de sua boca, vental ou frontal, desimportante, para na sua tentativa de tentar vencer seu oponente. Talvez dias se passaram nessa epopéia, quando finalmente, o mais forte finalmente venceu saindo com a vitória. Este olhava para seu adversário derrotado que perdeu com um certo ar de quem venceu uma batalha napoleônica. O ser de pêlos venceu o de escamas. Aquele olhando para este já eu seu barco mono-motor de um motor só derrotado, fatigado, sentiu algo que nunca havia sentido com o sentimento. A sensação do dever cumprido. Registrou isso em sua memória, talvez fosse capaz de contar até para seus trinetos, mesmo que, por uma desventura, ele sofresse de Alzheimer. Sentado na proa da frente em seu barco, refletiu bastante. Sabia que ele era o vencedor, mesmo que ninguém mais soubesse. Assim sendo, pegou o seu vencido e o jogou de volta para o mar. Após isso, pegou novamente sua cara vara e a lançou majestosamente ao lago, uma batalha começou a trava-se sob o barco, quando um peixe forte, venceu os oponentes e conseguiu abocanhar com a boca o anzol..
R. de G. _______21/03/2008 02:54am

sexta-feira, 14 de março de 2008

A uma senhora que me pediu versos

Pensa em ti mesma, acharás
Melhor poesia,
Viveza, graça, alegria,
Doçura e paz.

Se já dei flores um dia,
Quando rapaz,
As que ora dou têm assaz
Melancolia.

Uma só das horas tuas
Valem um mês
Das almas já ressequidas.

Os sóis e as luas
Creio bem que Deus os fez
Para outras vidas.

Joaquim Maria Machado de Assis

Nota: Homenagem - singelíssima - à pessoa do cabeçalho.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Elegia à meninice

Quando criança, era pequeno.
Quando pequeno, já era grande.
Na grandeza de uma infância pequena,
menos infeliz sou hoje.

Nada contra as crianças.
Aliás, depois de conhecer uma árvore,
as vejo de outra forma.
Mas que formas a árvore tinha!

Prefiro o meu eu de hoje,
porque hoje sei poucas coisas.
O que é melhor do que nada saber
e tudo sofrer.


terça-feira, 11 de março de 2008

Como assistir TV

A tv, apesar de quadrada, é uma invenção melhor que a roda. maneira correta de usá-la é nao dormir muitas horas por dias.Pois bem, acordando as 6:0, voce tera inumeros jornais de qualidade para assistir. Nada melhor do que começar o dia sabendo da desgraça alheia. Quando for umas 8 ou 9 horas, têm-se vários tipos de programas. Voce pode aprender a fazer receitas que nunca fará, pode saber da vida dos artistas, ou pode ainda, assistir a desenho animado. Na hora do almoço, almoce em frente ela. Assim não perderá as noticias de esporte e o principal, saber qual a nova contratação do Corinthians para roupeiro. À tarde, poderá assistir aquele velho, velho e bom filme e torcer para o loiro forte não ser pego pelo tubarão. Aos intervalos, procure mais noticias sobre o que os ex-BBB's estão fazendo. No final da tarde, nao deixe de assistir um gordo da antena, o que dá antena. Esse sim é um dos melhores programas para se assistir, pois esse é deveras sabido e querido pelo povo e a voz do povo é a voz do adeus. À noite, também se tem variada programação. Voce pode ficar mais religioso, assistindo pregações. Se nao for fanático religioso, pode optar entre ver o fascinante universo das telenovelas ou saber de mais algumas mortes. Por volta das 21:00, vc nao, de novo, tem opcao. Terá que assistir a novela das 8. Pois se decidir pelo pior, que é sair de casa, você estará por dentro do assunto em QUALQUER lugar.